domingo, 22 de junho de 2014

Porno for Pyros - Porno for Pyros (1993)

Os anos 1990 trouxeram o rock alternativo para os holofotes, desde então ele se tornou algo mais comum do que parece. Porno for Pyros é uma dessas bandas alternativas garageiras que passaram pela terra no começo dos anos 90. Resultado da interrupção dos trabalhos no Janes Addiction, membros remanescentes acabaram fundando a Porno for Pyros, chegaram a lançar nada mais que dois discos. Este é o primeiro deles. O tom garageiro está bem marcado nas canções, que buscam alcançar alguma psicodelia, algo perceptível pelos efeitos de guitarra e outras estripulias ao longo das canções. Acho curioso que em canções como Black girlfriend e Orgasm, eles lembram bastante uma sonoridade post-rock, porém de uma forma primitiva e relativamente distante deste gênero. É um disco curioso, com música tão estranhas e bizarras quanto a capa do disco.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Dance of Days - a história não tem fim (2001)

Alguns gêneros musicais são bem conhecidos por suas “bandas genéricas”. Bandas que fazem a mesmíssima coisa que dezenas de outras já fizeram, os mesmos tipos de letras, os mesmos efeitos de guitarra, a mesma estrutura, etc etc etc. O punk, hardcore, post-hardcore são famosos por isso, assim como emo. Gêneros onde um mar de mediocridade esconde algumas excelentes bandas, que tem uma inventividade muito acima da média. O disco “A História Não Tem Fim”, da banda paulistana Dance of Days é um ótimo exemplo disso.
Já no longínquo ano de 2001, quando no cenário punk/hardcore era tomado por centenas de bandas cantando em inglês, com uma sonoridade mais ou menos parecida, o Dance of Days aparece com seu primeiro álbum cheio, com 15 músicas, 13 delas em português, um álbum gravado quase ao vivo, o que por um lado mostra todas as falhas técnicas da banda (que não são poucas), por outro também deixa transparecer toda a força e energia do álbum. A primeira música, “Se Essas Paredes Falassem” deixa muito claro a essência da banda, enquanto o vocalista grita a letra que fala sobre um sujeito que em meio a um mundo extremamente preconceituoso, se vê em um relacionamento homossexual.
Daí pra frente o álbum se divide em duas partes, a primeira é extremamente pesada e agressiva, onde as letras extremamente políticas são ao mesmo tempo muito passionais, podemos ver isso na música Ícaro Sobre As Chamas:

[...] Enquanto nos porões destas fábricas nosso suor move as máquinas,
a fumaça cinza apaga o sol,
e então saímos pra recolher
os restos por baixo da fuligem.
Por favor não me deixa ver que nós trocamos
nosso sangue por migalhas e que não há mais abrigo
pra se proteger agora que a noite não tem fim.
Segura forte minhas mãos e diz
que amanhã vamos acordar
e nosso leito não vai estar tão sujo e frio...
O disco segue com a música “Corvos do Paraíso”, onde o vocalista Nenê Altro canta suas desilusões de lutas e grupos políticos – “vejo a solidariedade proletária escorrer pelo sangue nas costas de meus irmãos”. Toda essa primeira parte do álbum é marcada por essa espécie de desilusão das lutas políticas e da mentalidade de grupo. A próxima faixa, “Vinda a Mim” é quase um hino anticristão e anticatólico, e a desilusão política volta mais uma vez em “Flores Aos Rebeldes Que Falharam”, que tem mais uma letra carregada de niilismo que diz - “E nunca conseguimos nada. Todos sonhos que tivemos condenamos ao esquecimento e ao nosso próprio desprezo”. E a primeira parte do disco chega ao fim com a música “Carro Bomba”, a música mais pesada e “punk” do álbum, possui uma letra que transmite um sentimento daqueles que qualquer trabalhador assalariado desse mundo já pensou, talvez não de maneira tão agressiva, mas enfim: - “Você não imagina o que eu tenho em mente quando digo bom dia... Quando digo "sim, senhor" eu penso em te erguer pelo pescoço  e te ver mijar nas calças, seu filho da puta.”
Depois dessa canção de pura poesia e amor ao próximo, começa a parte mais calma do álbum, onde as músicas são mais cantadas e menos gritadas, e o aspecto político delas fica mais escondido nas letras pessoais, extremamente pessoais, é o caso da música “Mais Um Café Gelado Por Favor”, onde o personagem grita que não quer mais ouvir sobre trabalho, dinheiro ou como ele deveria mudar o mundo e se comportar, sobre coisas que ele não vai mudar. É quase impossível ouvir isso e não se identificar, porque afinal, todo mundo um dia já passou por isso, esse talvez seja o grande trunfo da banda e o fator maior do seu “sucesso”, a capacidade de fazer letras passionais que conservem algum conteúdo, coisa que era muito pouco vista na música, no rock brasileiro do final de 90 e começo dos anos 2000.
Após algumas canções mais “românticas” que deixaram a banda com o rótulo risivelmente pejorativo de emo, o disco termina com “Suburbia 1996”, uma música em inglês que fala de um garoto que saiu para ir a um show punk, e que depois, não quer mais voltar pra casa, prefere ficar no porão onde o show aconteceu, ainda que sozinho. E termina com:
Oh, please stay and make me feel alive.
Is it all the same with all punk kids?
Are we so afraid of our time passing by?
Just one more coffee...
just one more kiss...
Just one more song... it's all that I need
To feel like the world isn't bad enough
As long as you are there for me...

E assim termina o primeiro álbum do Dance of Days, com suas 15 músicas quase sem nenhum refrão, gritadas, berradas, cantadas desafinadamente, mas que é repleto de energia e honestidade. Quem não é muito fã do gênero dificilmente vai gostar, mas com certeza vale a pena ouvir, pela história da música e do punk brasileiro.

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Campo das bandas

obs: esse é o primeiro post do novo colaborador que chamarei por enquanto de Januário, e que devido a problemas técnicos, foi postado por mim.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Criolo Doido - Ainda há tempo (2006)

Praticamente todo mundo conhece o excelente disco do Criolo lançado em 2011, porém diferente do nó na orelha o "ainda há tempo" está bem mais ligado ao rap e a cultura hip hop do que o disco seguinte. Os samplers não perdem em nada para nenhum bom disco de rap e até mesmo causa um certo espanto de como este disco não fez o sucesso que deveria ter tido e como ainda aparece como algo um pouco apagado, o próprio site do artista, por exemplo, onde ele divulga seu material de uma forma exemplar, não traz este álbum fenomenal. Apesar do claro uso de samplers e loops, podemos arriscar tecer uma linha entre este e o disco seguinte, já que boa parte do trabalho do Dj se pauta em instrumental, nem sempre seguidos de uma batida eletrônica, mas sim usando o grave do baixo por exemplo. Suas letras, como sempre, muito bem construídas, trazendo os desafios e superações da população da periferia e da importância da cultura hip hop pra favela. 

sábado, 7 de junho de 2014

Unrest - Imperial f.f.r.r. (1992)

Muitas coisas só são devidamente compreendidas após algum tempo, talvez por este motivo sentimentos de nostalgia são tão comuns. Apesar de ter nascido nos anos 1990, e devido a minha idade não ter tido como acompanhar tudo que rolava, o que é meio óbvio, esta é uma década que vem mostrando muita coisa boa para além do grunge. Uma série de bandas produzem discos que dão o ponta pé a sonoridades que vemos em voga nas bandas atuais. Unrest e seu imperial f.f.r.r. talvez façam parte deste gigante rol de bandas. O disco é muito bom, traz uma série de composições de caráter pop, porém originais, algo como um Galaxie 500 mais garageiro e ligeiro. As canções são em sua maioria calmas e possuem um caráter experimental mínimo. Confesso que apesar de ser um bom disco, sinto que falta alguma coisa, que não sei explicar o que, pode até ser eu, vai lá saber. De qualquer forma é um bom disco para ser ouvido.

domingo, 1 de junho de 2014

Human League - Dare (1981)

Poderia ser uma banda de um hit só, mas não é. Human League tem uma história curiosa, começaram como uma banda praticamente experimental, porém neste terceiro disco eles decidem abordar uma sonoridade mais pop. Apesar de tudo que a música pop representa, ninguém tira o mérito de que a sonoridade pop é a mais fácil de ser ouvida! Letrinhas bestas e uma música legal. Como o Human League já tinha uma vida interessante e louvável antes, o resultado em Dare foi incrível. Na época o disco acabou sendo um sucesso, dando um belo ponta pé ao uso de elementos eletrônicos numa banda, e trazendo isto para o cenário da música pop. A faixa mais famosa e que você provavelmente já conhece é don't you want me, mas existem outras boas canções como the things that dreams are made of e seconds, são de longe as três melhores canções. O disco vale a pena ser ouvido, open your heart e do or die são bem oitentosas e devem ter atingido alguma pontuação legal nas rádios. Disco fácil de ouvir, especialmente para quem gosta da sonoridade mais ligada ao pós-punk e new wave dos anos 1980.