terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Roxy Music - Country Life (1974)

"Você não conhece Roxy Music?", perguntei eu para uma amiga, e de imediato passei este disco para ela. Apesar da pergunta soberba eu não sou um profundo conhecedor da banda, sei de algo em relação a todo o trabalho produzido, especialmente no que se refere aos trabalhos solo de Brian Eno e Bryan Ferry. O nome da banda está no clube dos nomes impactantes como: Velvet Underground, Joy Division, Kraftwerk e Television. Mais do que um nome bonitinho Roxy Music é tão importante quanto as outras bandas citadas. Apesar de ser usualmente catalogada como uma banda de Glam Rock, eles não podem se resumir a isto apenas. O que teremos com Roxy Music para a música de maneira geral, é algo como uma versão mais pop do que foi o Kraut Rock, ou uma versão menos experimental do Kraut Rock. Se você ainda ficar em dúvida, espero que esta capa linda te ajude a convencer (como já disse antes, me atraio aos discos pela capa). Podemos perceber aqui linhas de guitarra únicas, um baixo bem marcado (o que pouca gente sabe, faz toda a diferença) e os toques únicos de Bryan Ferry.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Música Indiana


Para além de todo o misticismo em torno da Índia, o que há de mais tátil lá é a sua pluralidade. Talvez a Índia seja, junto com o Brasil, um dos únicos países no mundo com tanta diversidade cultural. As questões religiosas refletem isso, há tantas religiões na Índia quanto ritmos musicais. O instrumento mais famoso é de longe a Sitar. Seu som peculiar é largamente associado a psicodelia. Dentre os músicos que tocam Sitar, Ravi Shankar é uma espécie de Jimi Hendrix do instrumento.
Por acaso é o disco the sounds of India de Ravi Shankar que está no livro 1001 discos para ouvir antes de morrer – onde clássicos e mais clássicos da música pop aparecem. O disco não foi escolhido por acaso, é nele que temos a faixa an introduction to indian music, onde ele explica coisas básicas como o tempo da música indiana. A ideia é ótima para nós ocidentais irmos conhecendo a música oriental e entendermos ela. Apresentando em separado cada parte, elas ficam mais claras quando executadas junto. Igual aquela cena do Moonrise Kingdom.
A música europeia é a que criou as partituras, onde as notas estão indicadas e o tempo da música está ali também (colcheias, semi colcheias, etc). Este tipo de notação musical surge com um tipo de música, a europeia.
Porém tem algo que pode estranhar a nossos ouvidos acostumados com a voz humana, não há vocais na música de Ravi Shankar. E se existe algo bonito são as variações feitas pelas Surdas. Elas são cantoras de hinos sagrados, geralmente em devoção a Krishna. Como muitas delas são cegas, se crê que a cegueira lhes facilitaria a habilidade para o canto, sendo sua voz um dom divino. As letras são em forma de poesia, hinos devocionais. Você com certeza já ouviu algum canto devocional das surdas, nem que seja como trilha de fundo de algum filme ambientado na Índia. Por acaso um belo dia encontrei o disco Surdas Bhajans hindi devotional de Sangitha Kalanidhi M. S. Subbulakshmi. Mesmo sem conseguir pronunciar seu nome, me apaixonei por sua música rapidinho. A presença de vocais se mistura com outros instrumentos da música indiana que geram um som tal que te leva para longe.
George Harrison e Ravi Shankar
Mesmo começando com o clássico Ravi Shankar, muita gente (inclusive eu) parou para ouvir alguma música indiana com os Beatles, mais especificamente George Harrison e o disco Revolver. George Harrison é apontado como um dos precursores na mistura da música indiana clássica com o rock, chegando até mesmo a tomar aulas de sitar com Ravi Shankar e ficando um bom tempo na Índia para se aperfeiçoar. Seu trabalho é notório, mas segundo declarações suas ao justificar seu “abandono” da Sitar coloca: “jamais chegaria a ser um bom tocador de sitar e isso não melhorou em nada minha guitarra”.
Acredito que a mistura da música indiana com o rock tenha seu exemplo mais bem sucedido com Ananda Shankar, parente de Ravi Shankar. Ananda foi encontrado por Jimi Hendrix em Nova York que logo o convidou para produzirem alguma música juntos. Parece que Jimi Hendrix buscava um som novo e amou a Sitar de Ananda. Até chegaram a ir para o estúdio, mas tudo o que Hendrix e Shankar conseguiram foi brigar. Depois disso Ananda Shankar decidiu gravar seu próprio disco. O resultado foi o homônimo Ananda Shankar em 1970.
Depois da era hippie a cultura indiana parece que conseguiu furar um pouco essa cultura ocidental moderna tão dura e rígida. O objetivo da contracultura é justamente este, criar algo novo em negação a sociedade que existia, uma alternativa para esse mundo cão.
Recentemente tomei contato com o som ácido indiano dos anos 1960. Como em todo lugar, eles produziam sua própria versão daquele som maravilhoso dos incríveis anos sessenta. Gosto bastante desta psicodelia de garagem, muito mais do que todo o refinamento e perfeição de bandas como Yes ou Pink Floyd. A sujeira faz com que as coisas sejam menos estéreis.
Se você já assistiu Ghost World, com toda certeza gostou da entrada quando toca Jaan Pehechaan ho, a música mais explosiva para balançar braços e cabeça na sua vida! Partindo dai, podemos perceber que não só de música clássica vive a Índia. Apesar de toda yoga e ayurveda, eles possuem seu lado ocidental. Podemos escutar a Simla Beat, coletânea do festival organizado pela marca de cigarros Simla, que gravou em duas edições as músicas dos participantes vencedores (o concurso ocorria em várias regiões da Índia). Não espere por Sitars ou algo indiano, temos um esforço descarado em imitar as bandas americanas e inglesas. Curioso afinal, já que o que torna a Índia tão famosa, e não só na música, é essa sua particularidade em relação ao mundo ocidental (europeu). Simla Beat não passa de uma boa coletânea de música rock psicodélica de garagem indiana dos anos 1960, som fácil e gostoso de ouvir. Mas o encontro entre a Índia e a cultura ocidental não para por ai. 
Om, provavelmente o mantra mais famoso.

 O que pouca gente sabe é que a província indiana de Goa, que foi até o ano de 1962 colônia portuguesa, vai se transformar num reduto dos Hippies. Isso fará com que mais tarde Goa se transforme num templo das raves, e parece continuar sendo. O curioso é que um dos primeiros discos para as raves é produzido na Índia! Charanjit Singh lança seu Ten ragas to a disco beat, e temos a rave lançada para o mundo. O nome já anuncia o caráter meditativo da música (lembra do raga citado acima?). Nada mais que os primórdios do eletrônico. Pode nos parecer até mesmo demasiado repetitivo, mas imagine este som em 1982! Loucura pura! Ocorre que a Índia tem um caldeirão de sons tão grande quanto sua variedade religiosa, e por isso independente de ser tocado por um instrumento sagrado como a Sitar, a ideia do contato com o seu ser está sempre ali, e isto talvez seja o mais importante da música indiana para nós ocidentais, motivados por máquinas, fumaça e o tempo marcado do relógio.

Ps: para mais informações sobre os discos e download, clique nos links  ;)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Wang Wen - IV (2008)

Não sei ao certo quando surge o post-rock, só sei que ultimamente cada vez mais pessoas ao meu redor são apaixonadas pelo estilo. Para mim o post-rock tem o mesmo problema que o do progressivo, as músicas são muito grandes, geralmente muito tranquilas e você tem que sentar e ouvir elas. São músicas que devem ser ouvidas. Isso acaba fazendo com que se torne difícil fazer uma audição do estilo enquanto se está lavando a louça por exemplo (já que você está dividindo sua atenção entre música e louça), acaba-se tendo fácil uma má audição da música e ela acaba causando certa irritação. Nestes tempos de imediatismo ouvir discos do começo ao fim é tarefa árdua. Wang Wen é uma dessas bandas de post-rock que não devem nada a ninguém, seu som é lindo. Considero eles tão bons quanto a turma do Mogwai, mas já aviso que eles são diferentes. Para começo de história os rapazes são da China, parece que cantam em inglês (e muito pouco). Todos os elementos de um bom post-rock estão ali, guitarras infinitas imitando na intensidade das ondas do mar, os famosos crescendo, solinhos e escalas. Este disco foi um achado que acabei tendo por acaso, gosto bastante dele, apesar de ouvi-lo pouco e ter demorado para escutar todas as músicas. Sei que os sujeitos usam alguma coisa das escalas de música chinesa, o que creio acaba dando o toque particular deles. Como me parece ser típico dos chineses, eles fazem tudo bem feito.


Para nossa sorte parece que a própria banda disponibilizou esse disco para download.

De qualquer forma aqui está um torrent subido por mim com o arquivo que eu tenho comigo.

Chute no cü

Beatles - Revolver (1966)


 Sem sombra de dúvidas se não fosse pelos Beatles a música hoje em dia não seria a mesma coisa. Devo admitir que eles são de longe a minha boy band favorita. Confesso que demorei anos para gostar de fato deles, mas os caras são realmente bons no que fazem. Mas tudo isto você sabe não é mesmo? O que temos de especial aqui neste disco é que os Beatles estão flertando com a psicodelia e não podemos esquecer eles são uma banda de música pop na época em que Revolver é lançado. Desta forma eles acabam trazendo mais do que a sitar para o grande público, estão misturando LSD com música indiana e mostrando isso para o grande público. Pode parecer estranho, mas o que eles estão fazendo é se esforçando por deixar o mundo menos coxinha (inclusive eles). Esta psicodelia não está tão clara quanto ficará mais tarde com Sgt Pepper, mas já temos uma amostra mais clara do que no disco anterior Rubber Soul. As faixas Love you To e a matadora Tomorrow Never Knows, usam da sitar e são as mais lisérgicas do disco apesar de todo o mérito de canções como Yellow Submarine, Taxman, Eleonor Rigby e outras tantas que acredito você já conhece.

Charanjit Singh - Ten Ragas to a Disco Beat (1982)


 Apesar de pensarmos em Estados Unidos e Inglaterra quando falamos sobre música pop, somos obrigados a engolir que os sujeitos a darem forma a música eletrônica são alemães e que o primeiro disco para ser tocado nas raves é da autoria de um indiano. O que temos na índia afinal é esta multi faceta, de longe sua maior riqueza. Na época o disco foi um verdadeiro fracasso, sendo redescoberto nos idos de 2010 e elevado a categoria de primeira gravação de Acid House que se tem notícia. A partir dai o sucesso foi garantido e Charanjit Singh começou a fazer algumas performaces ao vivo. No disco já podemos encontrar o uso do Roland TR-808 e Roland TB-303, usados já naquela época e mais tarde por nomes como Afrika Bambaataa e Yellow Magic Orchestra. O curioso é que tudo o que Singh fez foi misturar a música tradicional indiana e o que havia de mais moderno no período, a nascente música eletrônica.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

VA - Simla Beat (1970-1971)

Capa do disco de 1970
Parece que Simla era a maior marca de cigarro na Índia durante os finais de 1960 e princípios de 1970. Como o rock estava em alta eles aproveitaram para criar um festival de rock para as bandas de toda a Índia apresentarem sua música. Esqueça qualquer referência a música clássica indiana, parece que os músicos aqui jamais ouviram falar em Ravi Shankar ou até mesmo na sitar. Tão pouco deixe de esperar qualquer canção cantada em hindu ou algo parecido, todas as canções aqui são em inglês, por sinal em nada parecido com o falado pelo dono do mercadinho dos Simpsons. De qualquer maneira, são boas canções e não ficam devendo em nada para a psicodelia de garagem que era produzida durante esse período em qualquer parte do mundo. As músicas encontradas aqui de maneira geral não são algo tão elaborado quanto teremos neste período nos países nórdicos, nem tão original quanto o que foi a Tropicália. Apesar de boa música esta compilação dos vencedores de um concurso produzido pela indústria do cigarro para atrair o mercado jovem da Índia, tudo não passa de uma cópia do que vinha sendo produzido nos EUA e RU, revelando um baixa autonomia cultural neste sentido, algo perceptível pelos covers contidos nesta compilação. Isso infelizmente lhes tira muito da originalidade que podemos esperar. Óbvio e vale lembrar que cada povo faz as coisas a sua maneira e sempre adiciona algo.


Capa do disco de 1971


O link leva direto para uma compilção dos dois discos.

Bahia Pirata




quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Gun Club - Mother Juno (1987)

Acredito que Gun Club seja a banda mais famosa a misturar Blues com Punk. É uma mistura inusitada, mas que surte um efeito legal. Este disco em especial foi mais querido por mim durante algum tempo do que o famoso fire of love. As músicas são mais soturnas e adoro esta música simples e negra. Além de tudo a voz de Jeffrey Lee Pierce contém um desespero único. A faixa de abertura Bill Bailey já traz essa descrença com o mundo. Na época eu usava muito o transporte público, e Gun Club soava perfeito quando já estava escuro e era necessário caminhar pelas ruas já quase escuras. Com suas guitarras limpas, melancólicas e inconformadas. Este ar muito mais ligado ao pós-punk que encontramos aqui em Mother Juno acredito estar diretamente ligado ao seu consumo de drogas pesadas. No fim, só pela capa o disco já vale. Gun Club é único.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Riff - Macadam 3... 2... 1... 0... (1981)

Pappo Napolitano é uma lenda argentina. Já publiquei o som deles do Aeroblus, que é um rock pesado de primeira. Parece que nos finais da década de 1970, Pappo viaja para o Reino Unido e se encanta pela cena Heavy Metal da época e, em menor grau, pelo punk rock e o new wave. Claramente o som de Riff é um rock pesado (Heavy). Já te adianto que não suporto o Heavy Metal de maneira geral, porém o que temos em Riff é um rock pesado, muito mais ligado a Black Sabbath e outras bandas que precedem o que veio a se tornar mais tarde o famoso Metal. A Argentina tem boas músicas, igual aqui no Brasil, cabe a nós escutar os sons e selecionarmos o que mais nos agrada.